Eazy Kaos manda um Salve “Respeito é pra quem tem, Sucesso é pra quem trabalha” – (Clique e Compartilhe)
Início dos anos 2000, Danny-C e eu numa conversa de MSN, pensamos em fazer algo aqui no Brasil que fosse semelhante ao Rap-A-Lot Crime Family ou No Limit Soldiers. Um selo independente de rap e que todos os artistas colaborassem entre si. Eu tinha meu grupo Facção Ant-$istema com o Pacheco e o Erick12, dividi a ideia com eles, demos um salve no Fex Bandollero e assim começava o Reviravolta Máfia.
Chegamos a ter mais de 40 MCs nesse coletivo, lançamos singles, álbuns, mixtapes, clipes e um DVD ao vivo. Há quatorze anos atrás, já fazíamos cyphers (nem existia esse termo aqui), arriscávamos umas rimas multissilábicas quando ninguém se ligava nisso (“Se rima é uma arma, eu tenho logo um arsenal/Minha vida, minha alma, sai dos poros, é vital” – Trecho de Revolta, do F.A.$.), tínhamos uma página onde falávamos não só da gente, mas do cenário do rap no Brasil e no mundo. Tudo isso numa época onde rappers pouco investiam em internet, conexão banda larga ainda não era tão difundido e a maioria do público do rap não tinha tanta familiaridade com recursos como YouTube, Blogs, servidores pra download, etc.
A pergunta que não se cala é: Por que não deu certo?
A banca se desfez em 2009 e cada artista seguiu sua caminhada, talvez o grupo Inquérito seja o que mais se desenvolveu após se desvincular do coletivo. Pelo menos até onde eu sei, felizmente poucos abandonaram a música. Eu segui carreira solo, lancei uns singles, colaborei em dezenas de tracks, mas nunca deixei de pensar sobre o motivo do Reviravolta Máfia não ter virado.
Paralela a minha carreira, o rap brasileiro entrou em profunda metamorfose. Artistas como Emicida, Rashid, Projota, Criolo, Rael começaram a levar a coisa pra outro nível, que pra mim, era simplesmente utópico e intangível. O que estava acontecendo? Nasceu em mim um sentimento ruim, como alguém que tivesse perdido a namorada e ficou vendo ela postando selfies no Instagram com seu novo amor, mais bonito e mais jovem.
Quando não se tem a maturidade esperada, as reações de um músico que está se sentindo “trocado e diminuído” são as mais diversas: Indiretas no Twitter, composições cheias de rancor e recalque, vitimismo, enfim… Lá estava eu querendo esfregar na cara de todo mundo que “eu tava lá” antes de todo mundo. Só que ninguém liga. Ninguém mesmo.
Talvez o início da minha epifania foi ouvir de um mano a frase “Mas aí cuzão, o Damassaclan é o Reviravolta Máfia que deu certo, né?”. Essa fala ficou martelando minha cabeça por dias. Mas finalmente resolvi olhar a metade cheia do copo ao invés da metade vazia.
Eu não conheço a fundo a história do DMC e nem quero entrar no mérito da música dos caras, mas uma coisa é fato: Eles souberam e sabem trabalhar em grupo. Dinheiro faz dinheiro, mas só na mão de quem sabe empreender. Só talento e vontade não é o suficiente hoje em dia.
Eu me iludi por anos com os tapinhas nas costas seguidos de um “Mano, você é foda, rima muito“, ou os mais atuais “Máximo respeito“, “pesado“, “monstrão” e por aí vai. Achei que esses elogios iriam se expandir e me levar pro topo “porque eu sou bom“. Segura, né.
Eu não tenho a fórmula do sucesso, mas sei que dentro de casa com o celular enfiado na cara escrevendo besteira no Facebook não vai me ajudar em nada. Prefiro escrever umas linhas. Estou lendo muito, estudando música, treinando flows e métricas, flertando com a poesia, literatura, estou quebrando as correntes que eu mesmo coloquei na minha criatividade. Eu vim dos anos 90, amo os anos 90, mas estamos em 2017! Não preciso nem morrer lá, nem me travestir de novinho pra ser relevante no Rap. Eu posso evoluir técnica e musicalmente, sem perder minha essência. É essa a premissa que muito dos meus manos das antigas simplesmente se recusam a entender.
Não se pede respeito e não se exige reconhecimento para o público. O que você tem entregue aos ouvidos deles? Como estão seus beats? Sua dicção? Os temas das suas letras? A rima tá bem elaborada? Tá no Spotify?
Bora trabalhar mestre. A coisa tá dinâmica, veloz. Eu tava lá, mas tô aqui também.
Paz!
Cypher Reviravolta Mafia & Time PROhiphop – A Caminho da Guerra
“Nois já fazia cypher quando nem sabíamos que se chamava cypher” – Eazy Kaos
Fonte: https://eazykaos.wordpress.com